1994
– Negros e brancos votam juntos na África do Sul
Desafiando ameaças de bomba e a falta de organização,
sul-africanos de todas as etnias deram início ao primeiro dos três dias de
votação, encerrando com isto três séculos de dominação branca no país. As
eleições que levariam o líder negro Nelson Mandela à Presidência, contaram com
o voto de 22 milhões de eleitores, que, em sua maioria, votaram durante o
segundo dia.
“A África do Sul não está acostumada a fazer eleição para
toda a população”, lamentou o diretor de informações do Congresso, ao explicar
porquê o primeiro dia das eleições foi tão confuso. Segundo fontes do governo,
o grande problema, que frustrou uma parte dos eleitores, foi a falta de
logística. Em muitas sessões eleitorais, cédulas e urnas não chegaram em
quantidade suficiente para a grande demanda dos votantes, fazendo com que
longas filas de espera se formassem, atrasando o processo.
Antes do processo eleitoral, que colocou um ponto final no
regime de segregação entre brancos e negros no país, apenas três milhões de
pessoas (brancos e mestiços) participavam do processo de escolha dos seus
governantes. Conhecido como apartheid, cujo início formal se dera no início do
século XX, o regime segregacionista do país instaurou a supremacia branca na
África do Sul, na qual os brancos, um quinto da população, tinham direito à
posse de mais de 90% das terras, além de acesso à melhor educação, áreas de
lazer, saneamento básico, rede de energia, melhores salários e direitos civis.
Dentro de sua própria terra, os negros viviam isolados, oprimidos e cerceados.
Em 1990, no entanto, o então presidente F. W. Kerk não
conseguiu suportar a agitação popular e a pressão internacional. O parlamento foi
aberto à partidos políticos de oposição, que antes tinham sido banidos, e o
grande líder revolucionário, Nelson Mandela, que passara mais de 30 anos na
prisão, foi libertado. As eleições aconteceram, assim, após quatro anos de
transição negociada entre o governo e o partido de Mandela (CNA).
“É um momento inesquecível, a realização de minhas
esperanças e sonhos mais profundos”, declarou ele no dia seguinte, em seu
colégio eleitoral. Mandela foi eleito e permaneceu no governo até 1999. Hoje,
ele se mantém afastado da política, mas permanece envolvido em causas sociais
de direitos humanos.
FONTE: JORNAL DO BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário