FAÇA DIFERENTE

FAÇA DIFERENTE
FAÇA a COISA CERTA

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

9 motivos pelos quais você também deveria lutar contra o racismo










1 – Você faz parte disso

Certa vez uma pessoa me disse que os debates sobre racismo são exagerados, pois ela não via razões para discriminar alguém por sua cor de pele. É um raciocínio romântico achar que, por não fazermos parte do grupo que discrimina, basta jogar o assunto para debaixo do tapete. Tendo o preconceito ao nosso redor diariamente, ainda que de forma involuntária, somos parte disso. Por exemplo, quando minimizamos a gravidade de um ato discriminatório ou quando presenciamos uma cena e não fazemos nada a respeito. Também fazemos parte quando não questionamos o modelo de sociedade que estamos vivendo. A não ser que você viva em uma realidade paralela, onde todos são iguais de fato, você faz parte disso.

2 – Violência gera violência
O racismo é uma forma de violência e, como tal, age em ciclos. Os contínuos esforços em manter a população pobre na periferia afastam seus moradores de condições decentes de educação, saúde e trabalho, corroborando para a manutenção da situação degradante dos moradores de áreas afastadas. A maioria da população moradora de favelas é negra, segundo estudo do Ipea. O IBGE aponta que 1% dos moradores possui ensino superior.

Esta população está sensivelmente próxima da violência, fato comprovado pela pesquisa que mostrou que a violência urbana está diretamente ligada à discriminação racial e social.

Este assunto é frequentemente apontado quando a criminalidade é discutida. Há quem não tolere a defesa de um criminoso, sob a alegação de que, como seres humanos cientes de seus atos, eles precisam apenas ser punidos e afastados – ainda mais – do convívio social. Como nosso sistema de reabilitação é bastante deficiente, o mais natural, embora trabalhoso para alguns, seria propor-se a estudar o cerne do problema, não apenas sua consequência. A população negra está marginalizada, pessoas marginalizadas não têm expectativa de vida e são mais facilmente coagidas a integrar grupos criminosos, não por escolha, mas porque todo o resto lhe virou as costas. O debate sobre a questão criminal no Brasil precisa se afastar de percepções emocionais e se aproximar da Ciência, e isto não é assunto exclusivo para sociólogos e juízes, é problema de todos os habitantes das cidades.

3 – Você sabe que é errado

Quando uma pessoa acredita que seu ponto de vista é minimamente razoável, ela o expõe com os argumentos que tem a seu alcance. Quando ela sabe que está errada, sai pela tangente, se esconde, faz piada, tenta justificar com sentenças sem pé nem cabeça. Racismo é crime, e é tão grave que as pessoas que o praticam sabem disso, e não raro se escondem sob o anonimato quando querem externar o que pensam de forma clara.

4 – As crianças não têm culpa

Além da densa discussão proposta no item 2, uma outra consequência grave da discriminação racial são os efeitos psicológicos em quem sofre e quem vê. É na primeira infância que o ser humano aprende valores que pautarão seu comportamento para o resto da vida. A criação de estereótipos raciais firma nas crianças a ideia de separatismo. Atitudes pequenas como a naturalização de apelidos ofensivos e negação de características físicas de pessoas negras (lábios grossos, narizes grandes, cabelos crespos) tornam-se verdades na cabeça das crianças. Além do aspecto cruel de tornar crianças reféns de tal barbaridade, elas crescerão e se tornarão adultos que pautaram sua vida em atitudes de discriminação, o que ajudará a agravar os supracitados problemas com violência.

Lutar contra isso é apoiar uma sociedade mais justa, onde crianças estão livres da violência física e psicológica causada pelo racismo, e poderão se tornar adultos saudáveis e menos vulneráveis.

5 – Não faz sentido

No caso do Brasil, negros foram trazidos para cá num grande esquema de tráfico humano para serem utilizados como escravos. Mulheres negras foram objetificadas e reduzidas a objetos sexuais e amas de leite.
Como negros eram inferiorizados até praticamente não serem considerados humanos, criou-se, entre outras teorias absurdas, a ideia de que eram mentalmente inferiores do que brancos. Até hoje há quem defenda esta ideia torpe, muito embora a ciência tenha precisado perder tempo para provar o óbvio: não há superioridade mental branca.

6 – Não tem graça
Racismo não é humor, a não ser que o objetivo seja apenas reforçar os estereótipos preconceituosos que já vivemos. Um dos principais argumentos de defesa de quem é pego no flagra fazendo troça deste tipo é que era só uma brincadeira. Primeiro devemos ter em mente ninguém é obrigado a aceitar a brincadeira que for. Depois é preciso pensar o que você sentiria se fosse com você. Vale também tentar saber o que sentem as pessoas que são alvo destas brincadeiras.

Por último: simplesmente não tem graça. Há coisas engraçadas no mundo e o racismo não é uma delas. Chamar de macaco, cabelo de Bombril, dizer que, apesar de negra, a pessoa até que tem traços finos, chamar de cotista um negro no meio de um grande grupo de pessoas brancas, nada disso tem justificativa senão unicamente a ignorância.
Se alguém realmente acha que está certo por proferir piadas racistas e continua justificando isso com argumentos cada vez mais violentos, ele está errado.

De tempos para cá, muita gente reclama do politicamente correto.
O politicamente correto nada mais é que ética e respeito, é saber que não, não podemos tudo. E achar que pode usar alguém como alvo de piada preconceituosas e não querer enfrentar o que vem depois disso, é infantilidade, coisa de gente que não aprendeu desde cedo que não temos direitos sobre a vida do outro, tampouco temos direito de humilhar alguém por sua cor da pele – olha os efeitos do racismo na infância aí.
Aceitar com naturalidade o humor feito para humilhar o outro é gostar de viver em uma sociedade desigual, ponto contra o qual precisamos ir.

7 – É uma luta cansativa, mas é um trabalho em grupo

Lutar contra o racismo é uma guerra constante e pesada. É estar o tempo todo tendo que repetir as mesmas coisas para explicar ao racista por que o comportamento dele não tem motivo de ser. Mas, adivinha só? Como todo trabalho, este também traz mais resultados se feito em conjunto. É comum se sentir irritado ou entristecido com manifestações racistas, mas a militância diária dá resultado. Às vezes uma conversa basta. Às vezes é preciso ser mais enfático. Tudo depende de quão enraizado está o preconceito na vida de quem o pratica.

8 – Qualquer um pode fazer isso

Não é necessário participar de um grande grupo político para lutar contra o racismo, atitudes cotidianas também devem se tornar ponto de atenção. Questione-se porque há tão poucos estudantes negros nas universidades, repare na cor da pele dos jovens mortos por arma de fogo, se pergunte porque há empresas de empregados domésticos que tem a opção “cor” no formulário de preenchimento de requisição de funcionário.

9 – Você se beneficia de uma sociedade igualitária

Ter mais negros em altos cargos de trabalho, ocupando cadeiras universitárias e passeando pelas ruas sem estarem sob frequente estado de alerta para não serem apontados como criminosos em potencial torna a vida mais fácil a todos. Estar perto da população mais pobre também nos torna sensíveis às questões sociais e nos permite entender nosso papel na comunidade, pois é um erro crasso achar que pertencemos a algum grupo diferente. Nós apenas estamos em condições diferentes. A luta contra o racismo precisa ser de todos porque ela sedimenta as políticas que permitirão o desenvolvimento de todos os cidadãos, diminuindo a desigualdade social e, consequentemente, construindo um lugar melhor para todos.


FONTE: Revista Black Brasil

25 curiosidades sobre a escravidão que você não sabia

Os primeiros navios negreiros foram trazidos pelo português Martim Afonso de Sousa, em 1532. A contabilidade oficial estima que, entre essa data e 1850, algo como 5 milhões de escravos negros entraram no Brasil. Porém, alguns historiadores calculam que pode ter sido o dobro.

- Os navios negreiros que traziam os escravos da África até o Brasil eram chamados de tumbeiros, devido à morte de milhares de africanos durante a travessia. Estas mortes ocorriam devido aos maus-tratos sofridos pelos escravos, pelas más condições de higiene e por doenças causas pela falta de vitaminas, como no caso do escorbuto.

- É possível traçar a origem dos escravos em três grandes grupos: os da região do atual Sudão, em que os iorubás, também chamados nagôs, predominam; os que vieram das tribos do norte da Nigéria, a maioria muçulmanos, chamados de malês ou alufás; e o grupo dos bantos, capturados nas colônias portuguesas de Angola e Moçambique.

- Quando chegava ao Brasil, o africano era chamado de “peça” e vendido em leilões públicos, como uma boa mercadoria: lustravam seus dentes, raspavam os seus cabelos, aplicavam óleos para esconder doenças do corpo e fazer a pele brilhar, assim como eram engordados para garantir um bom preço.

- Um escravo valia mais quando era homem e adulto. Um escravo era considerado adulto quando tinha entre 12 e 30 anos. Eles trabalhavam em média das 6 horas da manhã às 10 da noite, quase sem descanso, e amadureciam muito rápido. Com 35 anos, já tinham cabelos brancos e bocas desdentadas.

- Os cativos recebiam, uma vez por dia, apenas um caldo ralo de feijão. Para enriquecer um pouco a mistura, eles aproveitavam as partes do porco que os senhores desprezavam: língua, rabo, pés e orelhas. Foi assim que, de acordo com a tradição, surgiu a feijoada.

- A Festa de Nossa Senhora do Rosário, a padroeira dos escravos do Brasil colonial, foi realizada pela primeira vez em Olinda (PE), no ano de 1645. A santa já era cultuada na África, levada pelos portugueses como forma de cristianizar os negros. Eles eram batizados quando saíam da África ou quando chegavam ao Brasil.

- Na cidade de Serro (MG), acontece a maior de todas as festas em homenagem a santa, em julho, desde 1720. De acordo com a lenda, um dia Nossa Senhora do Rosário saiu do mar. Ao ser chamada por índios, não se mexeu. O mesmo aconteceu com marinheiros brancos. A santa só atendeu aos escravos, que tocaram bem forte os seus tambores.

- Crianças brancas e negras andavam nuas e brincavam até os 5 ou 6 anos anos de idade. Tinham os mesmos jogos, baseados em personagens fantásticos do folclore africano. Mas aos 7 anos, a criança negra enfrentava sua condição e precisava começar a trabalhar.

- Cada senhor de engenho tinha autorização para importar 120 escravos por ano da África. E havia uma lei que estipulava em 50 o número máximo de chibatadas que um escravo podia levar por dia.

- A cozinha era muito valorizada na casa-grande. Conquistaram o gosto dos europeus e brasileiros os pratos de origem africana, como vatapá e caruru, comuns na mesa patriarcal nordestina. A cozinha ficava num anexo da casa, separada dos cômodos principais por depósitos ou áreas internas.

- Normalmente, divisões internas da senzala separavam homens e mulheres. Mas, algumas vezes, era permitido aos poucos casais aceitos pelo senhor morarem em barracos separados, de pau-a-pique, cobertos com folhas de bananeira.

- Aos domingos, os escravos tinham direito de cultivar mandioca e hortaliças para consumo próprio. Podiam, inclusive, vender o excedente na cidade. A medida combatia a fome do campo, pois a monocultura de exportação não dava espaço a produtos de subsistência.

- Quando a noite caia, o som dos batuques e dos passos de dança dominava a senzala. As festas e outras manifestações culturais eram admitidas, pois a maioria dos senhores acreditava que isso diminuia as chances de revolta.

- Com a expansão das cidades, multiplicam-se escravos urbanos em ofícios especializados, como pedreiros, vendedores de galinhas, barbeiros e rendeiras. Os carregadores zanzam de um lado a outro, levando baús, barris, móveis e, claro, brancos.

- Escravos de Ganho eram escravos que tinha permissão de vender ou prestar serviços na rua. Em troca, ele deveria dar uma porcentagem dos ganhos a seu dono.

- Em algumas regiões, os escravos africanos eram divididos em três categorias: o “boçal”, que recusava falar o português, resistindo à cultura europeia; o “ladino”, que falava o português; e o “crioulo”, o escravo que nascia no Brasil. Geralmente, ladinos e crioulos recebiam melhor tratamento, trabalhos mais brandos e perspectiva de ascenção social.

- Os negros nunca tiveram uma atitude passiva diante da escravidão. Muitos quebravam ferramentas de trabalho e colocavam fogo nas senzalas. Outros cometiam suicídio, muitas vezes comendo terra. Outros, ainda, entregavam-se ao banzo, grande tristeza que podia levar à morte por inanição. A forma comum de rebeldia, no entanto, era a fuga.

- Segundo alguns historiadores, a capoeira nasceu de um ritual angolano chamado n’golo (dança da zebra), uma competição que os rapazes das aldeias faziam para ver quem ficaria com a moça que atingisse a idade para casar. Com o tempo, a prática se transformou em exibição de habilidade e destreza.
- A palavra capoeira não é de origem africana. Ela vem do tupi (kapu’era). Trazida para o Brasil por intermédio dos navios negreiros, a capoeira foi desenvolvida nos quilombos pernambucanos do século XVI. As características de luta e dança adquiridas no país podem classificá-la como uma manifestação cultural genuinamente brasileira.

- O berimbau é um instrumento de percussão trazido da África (mbirimbau). Ele só entrou na história da capoeira no século XX. Antes, o instrumento era usado pelos vendedores ambulantes para atrair os clientes. O arco vem do caule de um arbusto chamado biriba, comum no Nordeste, que é fácil de envergar.

- Até a abolição da escravatura, a lei punia os praticantes de capoeira com penas de até 300 açoites e o calabouço. De 1889 a 1937, a capoeira era crime previsto pelo Código Penal. Uma simples demonstração dava seis meses de cadeia. Em 1937, o presidente Getúlio Vargas foi ver uma exibição, gostou e acabou com a proibição.

- Após a independência de Portugal, em 1822, uma das primeiras medidas do governo foi proibir que alunos negros frequentassem as mesmas escolas que os brancos. Um dos motivos apontados é que temiam eles pudessem transmitir doenças contagiosas.

- O movimento abolicionista tinha mais de 60 anos quando a Lei Áurea foi assinada, em 1888. Mobilizava muitos intelectuais da época, como escritores, políticos, juristas, e também a população de uma forma geral.

- Em 1823, dom Pedro I chegou a redigir um documento defendendo o fim da escravidão no Brasil, mas a libertação só ocorreu 65 anos depois.

FONTE:  Revista Black Brasil – Esta lista foi extraída e adaptada de diferentes fontes, como mania de história e guia dos curiosos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A conquista do Oeste na expansão das fronteiras norte-americanas









Com menos heróis e mais interesses econômicos, norte-americanos expandiram o território do país no século 19

Carruagens fugindo de bandidos. A cavalaria combatendo índios, cowboys solitários laçando cavalos e bois. Manadas de bisões que faziam a terra tremer quando estouravam por imensas planícies. Agricultores e suas famílias tirando o sustento de terras hostis com tenacidade. Tiros para todo lado. Estradas de ferro.

Os relatos de escritores e jornalistas, as pinturas de Frederic Remington e o cinema fixaram na mente das pessoas histórias e tipos míticos como cowboys e xerifes em cidades poeirentas. Ficção à parte, a conquista do Far West teve contornos lendários, mas envolveu política, trabalho duro e rotineiro e muita violência.

Quando os britânicos depuseram armas, em 1781, os habitantes das 13 colônias que fundaram os EUA tinham como fronteira ocidental a Cordilheira dos Apalaches, uma área do tamanho de Minas Gerais e São Paulo. Em 1803, a Louisiana foi comprada dos franceses. Em 1819, foi a vez da Flórida, adquirida dos espanhóis. A partir de 1846, uma guerra de dois anos custaria ao México metade de seu território. No mesmo ano, o Tratado do Oregon (1846) garantiu a porção noroeste, definindo a fronteira com o Canadá. “Em 1848, os EUA já haviam alcançado o Pacífico, numa conquista vertiginosa e violenta”, afirma a historiadora Mary Junqueira, da USP.

Para garantir a posse de tanta terra, era preciso povoá-la. “A região foi ocupada por gente de vários perfis atraída pela chance de adquirir terra e direitos políticos”, diz Mary. Além do incentivo à imigração e da legislação conhecida como Land Ordinance (1785), que regulava a formação de estados no Oeste, dois eventos atraíram multidões para a “Corrida do Oeste”: a descoberta de ouro na Califórnia e o Homestead Act, que doava lotes de 160 acres (65 hectares) de terras federais, assinada em 1862 por Abraham Lincoln. Parte das terras foi obtida por especuladores, prejudicando o pequeno agricultor, segundo Claude Fohlen, em O Faroeste.

Os personagens
A Conquista do Oeste tem personagens emblemáticos. Os primeiros a se embrenharem na terra desconhecida foram os caçadores de peles, que não se fixaram na região. Seguiu-se um grande fluxo de mineiros, seduzidos pela promessa nunca concretizada de um Eldorado. O auge da exploração se deu na Califórnia, entre 1848 e 1855. Houve ciclos posteriores em estados próximos, com resultados parecidos.

Já o cowboy, a figura mítica da região, na essência é um perito em manejar gado e cavalos. Os espanhóis trouxeram bovinos ao Golfo do México no século 17. Com as guerras e o fechamento das missões, no século 19, os rebanhos voltaram ao estado selvagem. Os americanos, atraídos pelo cultivo de algodão, viram a oportunidade de domesticar e explorar os long horns, ou chifres longos, como faziam os vaqueros. Havia também mustangs: cavalos em estado selvagem pouco maiores que um pônei, mais resistentes que as raças europeias e com instinto apurado para conter o gado.

Mas levar rebanhos do Texas até os consumidores do Leste exigia cruzar territórios indígenas – o que era ilegal – ou florestas cheias de ladrões e soldados desertores. As viagens irritavam também os colonos, porque o gado danificava plantações e transmitia doenças. O comerciante Joseph G. McCoy foi um dos que pensaram na solução para o problema. Em 1867, ergueu galpões de madeira para abrigar os rebanhos e um saloon, transformando Abilene, no Kansas, em entreposto comercial ao lado de uma ferrovia. Faltava levar o gado até o que viria a ser chamado de cowtown. A travessia rendeu grande fama aos cowboys, um contingente de 40 mil homens, pelos cálculos de Fohlen.

Um capataz comandava até dez cowboys, dependendo do tamanho do rebanho. Eram homens entre 20 e 30 anos, com boa saúde e vigor físico para caminhadas de até 25 km para domar reses. À noite, cantavam para acalmar os bois e se revezavam na vigília para proteger os acampamentos de saqueadores, lobos, coiotes e colonos. Tinham dieta simples: carne fresca era raridade. Nada desteaks, uma criação do século 20. Para beber, café, água e uísque de milho.

Outro grande evento eram os round-ups, quando os rebanhos de vários criadores eram marcados a ferro quente. Tais eventos atraíam muitos cowboys e são a mais provável origem dos rodeios. Nessa época, empresários perceberam o potencial da industrialização da carne de gado no Oeste. Adotaram criações sedentárias e cruzaram raças para melhorar a qualidade do produto. Os cowboys passaram a se ocupar mais da rotina dos ranchos.

O historiador Walter Webb, em seu trabalho The Great Plains (“As grandes planícies”), cita a descrição de um habitante da época sobre um deles: “Vive montado em seu cavalo, combate como os cavaleiros da Idade Média, anda armado, jura como um soldado, bebe como um peixe, veste-se como um ator e luta como o diabo. É amável com as mulheres, reservado com os estranhos, generoso com os amigos e brutal com os inimigos”.

Agricultura
A área cultivável nos EUA ia da Costa Leste ao vale dos rios Mississippi e Missouri, além de uma faixa de terra do litoral até a Serra Nevada, no Oeste. Entre essas duas regiões, com a cadeia das Montanhas Rochosas no meio, existiam as grandes planícies, terra difícil de cultivar sem irrigação.
Cenário hostil a que chegaram os colonos atraídos pelo Homestead Act. Quanto mais fazendeiros, mais graves eram os conflitos com os criadores de gado. Cercar as plantações era difícil, pela escassez de madeira e pedras. Até que Joseph Glidden patenteou o arame farpado, em 1873. Produzido em série, tinha preço acessível. Em menos de uma década, espalhou-se pelo Oeste. Segundo Walter Webb, o arame farpado foi decisivo para o avanço dos colonos. “Só então foi possível plantar com certo grau de economia e alguma certeza de não ter as colheitas comidas pelo gado solto no campo.”

Os índios
Ao lado dos mexicanos, os índios foram os grandes prejudicados pela marcha para o Oeste, de acordo com Mary Junqueira. No início do século 19, tribos do Leste e Meio-Oeste, como os sioux, foram empurradas para as planícies. Outras, como os cherokees e seminoles, foram realocadas em uma reserva onde é hoje o estado do Oklahoma. Apaches e navajos, que habitavam o sudoeste, tiveram de lutar muito para ficar por lá.

Os índios se adaptaram à vida nas planícies caçando bisões, abundantes no Oeste. Tinham destreza com cavalos e aprenderam a manejar com habilidade armas de fogo. Finda a Guerra de Secessão, o Exército Federal foi encarregado de garantir a segurança de colonos e cowboys, além de proteger a construção das ferrovias. Fortes militares foram erguidos e vários originaram cidades. Como mineiros, colonos, cowboys e os trens cruzavam áreas indígenas sem cerimônia, os índios atacavam ou roubavam bois e cavalos. A resposta dos militares foi violenta.

A ampliação das ferrovias e o povo “branco” praticamente extinguiram o bisão nos EUA, tirando o principal meio de subsistência dos índios, confinados em reservas cada vez menores. “Touro Sentado, chefe dos sioux, e Gerônimo, líder apache, são símbolos da resistência. Ambos perderam a queda de braço com o homem branco”, diz Mary Junqueira.

O transporte
A marcha rumo ao interior e depois ao Oeste utilizou ao longo do tempo quatro meios de transporte. O primeiro foram os steamboats, barcos a vapor, de casco quase reto, sem quilha – para escapar dos bancos de areia do Rio Mississipi. Sua característica mais marcante eram grandes rodas hidráulicas na popa. As viagens eram lentas e as caldeiras, barulhentas.
Longe dos rios, as diligências: carroças puxadas por parelhas de cavalos. Durante a Corrida do Ouro, ir do Missouri à Califórnia podia levar mais de quatro meses. “Era mais rápido ir de navio, contornando o Cabo Horn, na América do Sul”, afirma Mary Junqueira. Com a abertura de trilhas e a criação de serviços regulares, o tempo caiu para até 20 dias.

Os trajetos eram percorridos em comboios, para as carroças não se perderem e ficarem menos expostas a ataques. O custo da viagem era alto e a comida, precária. Os passageiros sofriam com os solavancos e a travessia de riachos e vaus.

Os navios só perderam a primazia com a chegada do trem ao Oeste. Em 1855, o Exército levou ao Congresso um plano detalhado com rotas possíveis para formar a malha ferroviária do país. Várias empresas entraram no negócio, entre elas a Central Pacific e a Union Pacific. A primeira partiu de Sacramento (Califórnia) e a segunda de Omaha (Nebraska). Mais eficiente e com emprego de mão de obra chinesa em larga escala, a Central cumpriu a meta e foi adiante. Em 10 de maio de 1869, o encontro das locomotivas das duas equipes em Promontory Point, Utah, foi um acontecimento nacional. Houve orações no local e o Sino da Liberdade soou na Filadélfia. Os trilhos iam agora de costa a costa.

Segundo o historiador Dee Brown, autor de Enterrem meu Coração na Curva do Rio, o século 19 no Oeste foi uma época de incrível violência e veneração da liberdade individual. E nesse quadro “se criaram os grandes mitos do Oeste americano – histórias de caçadores, pioneiros, pilotos de vapores, jogadores, pistoleiros, soldados da cavalaria, mineiros, cowboys, prostitutas, missionários, professores e colonizadores.” Para Mary Junqueira, um aspecto marcante da Conquista do Oeste é seu forte tom romanceado. “Apesar de visto assim por muitos nos séculos 19 e 20, tal processo não pode ser considerado uma aventura”, afirma a historiadora. “Claro que tipos como fazendeiros e cowboys existiram, mas o encontro do homem civilizado, mesmo que rústico, com o meio selvagem (natureza e indígenas) resultou numa versão que minimiza a violência que foi de fato empregada.”

FONTE: AVENTURA DA HISTÓRIA - Texto Marcelo Sales