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sábado, 23 de abril de 2011

A invenção do grito

A imagem mais conhecida da Independência mostra d. Pedro às margens do Ipiranga. Mas o acontecimento nem sequer era comemorado no início do Império



A imagem de d. Pedro I desembainhando a espada no alto do Ipiranga é uma das representações mais populares da história do Brasil. Há muitas décadas ela figura em livros didáticos e ilustra páginas de revistas e jornais por ocasião das comemorações da Independência. Diante dela temos a impressão de sermos testemunhas do evento histórico, aceito naturalmente como o “marco zero” da fundação da nação. No entanto, essa imagem é fruto da imaginação de um artista que nem mesmo tinha nascido no momento em que o episódio ocorreu.


Historiadores têm demonstrado que foram necessárias muitas décadas para que o hoje famoso episódio do “Grito do Ipiranga” adquirisse o status que ele possui no contexto das narrativas sobre a Independência. Como demonstra a pesquisadora Cecília Helena Salles de Oliveira em seu estudo sobre o tema, a data de 7 de setembro não foi considerada, de início, particularmente relevante como marco simbólico da formação da nação, nem pela imprensa, nem pelo próprio d. Pedro.

Em carta dirigida aos paulistas, no dia seguinte ao episódio ocorrido às margens do Ipiranga, o príncipe fala da necessidade urgente de retornar ao Rio de Janeiro em função das notícias recebidas de Portugal. Na longa carta, não há qualquer referência ao “grito”. A Independência do Brasil não estava inteiramente consumada. Dependia também de negociações políticas. Também em carta dirigida ao seu pai a 22 de setembro, d. Pedro não faz referência ao evento.

Da mesma forma, os jornais de época, que ensaiaram as primeiras narrativas sobre a Independência do Brasil, não traziam qualquer menção à data de 7 de setembro. O Correio Braziliense, por exemplo, publicou uma notícia declarando a data de 1º de agosto como marco da emancipação. Era a data em que o príncipe enviou o Manifesto às Províncias do Brasil, no qual se desobrigava de obedecer às ordens das Cortes de Lisboa. O redator do jornalRegulador Brasileiro, por sua vez, apontaria a data de 12 de outubro, na qual ocorreu a aclamação de d. Pedro I como Imperador do Brasil, como o verdadeiro marco da criação da jovem nação. Outras datas, como o 9 de janeiro, dia do “Fico”, em que d. Pedro I recusou-se a embarcar para Portugal desobedecendo as ordens dadas pelas Cortes de Lisboa, ou a de 1o de dezembro, data da coroação, foram mencionadas, mas nunca o 7 de setembro.

Era fundamental para as elites vinculadas ao governo evitar que o processo de independência se transformasse em uma revolução popular, como ocorrera na América Espanhola. Assim, nos primeiros anos após a Independência, as datas que reafirmavam a monarquia Bragança, como a aclamação e a coroação de d. Pedro I, é que são postas em evidência.


São esses mesmos episódios, a aclamação e a coroação, que mereceram destaque no livroViagem pitoresca e histórica ao Brasil, de Jean-Baptiste Debret (publicado na França entre 1834 e 1839). Debret, que chegou ao Brasil com a Missão Francesa em 1816, foi o artista mais próximo da Corte portuguesa em sua época. A prancha no 47 do livro, referente à Aclamação, apresenta D. Pedro I na varanda de um palacete no Campo de Santana, sendo saudado pela multidão, após ter aceitado o título de imperador do Brasil. Ao seu lado, encontram-se a imperatriz com a filha primogênita, Maria da Glória, e figuras de destaque no processo político de independência e do novo governo, como José Clemente Pereira (à época presidente do Senado), José Bonifácio, ministro do Império e seu irmão Martim Francisco, ministro das Finanças. O Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, guarda um pequeno esboço a óleo deste quadro, que provavelmente serviu de base para a realização da imagem do livro.

A segunda imagem representa a Coroação de d. Pedro I. Tendo em vista que ela é a reprodução do maior quadro histórico realizado pelo artista durante seus anos no Brasil (a obra pintada em 1828 encontra-se hoje no Palácio do Itamaraty), poderíamos mesmo afirmar que este é o episódio por excelência selecionado por Debret para representar a fundação do Império. O quadro é um verdadeiro retrato social das elites do Império e serve bem como imagem inaugural da fundação do um novo país.

Coroação

A composição em forma de friso apresenta o imperador d. Pedro I, à direita do quadro, sentado em seu trono e usando as insígnias do novo Estado. Ao seu redor estão altos representantes da Igreja, figuras de destaque na Corte, nobres e altos funcionários do Estado, e um hall de políticos que formaria o seu novo governo. No extremo oposto a d. Pedro, observando a cena a partir de um balcão, estão a imperatriz com a filha, marcando a continuidade da casa dos Bragança nos trópicos.

Em 1826, no entanto, a publicação do testemunho do padre Belchior Pinheiro Ferreira incluiu a data de 7 de setembro no calendário de festividades da Independência. O relato dava forma e voz à reivindicação paulista de ter sido o palco dos principais acontecimentos que levaram à ruptura com Portugal. Graças a ele, o episódio do “Grito” ganhou força na imaginação popular, e se difundiu à medida que a importância política e econômica de São Paulo foi crescendo no cenário do país.


O relato do padre Belchior também enfatizava a atuação de d. Pedro I, mostrando-o não somente como o legítimo herdeiro dos Bragança e, portanto, como o elo que possibilitaria a continuidade na mudança, mas como um herói, capaz de tomar o destino do país em suas mãos. Porém, essa dimensão da narrativa do padre permaneceu inexplorada ainda por algumas décadas, explicitando-se inteiramente apenas no final do século, na famosa obra de Pedro Américo. Um outro quadro intitulado Proclamação da Independência, realizado em 1844 pelo artista francês François-René Moreaux, revela como ainda naquele momento a afirmação do direito natural de d. Pedro I ao trono brasileiro impunha-se como preocupação central. O príncipe é representado ao entrar na cidade de São Paulo. Ele está cercado de figuras do povo e levanta seu chapéu em sinal de saudação. Em sua mão direita traz uma carta, provavelmente contendo as notícias vindas de Lisboa – que o motivou à decisão de romper os laços com Portugal. A obra permaneceria na sala do Senado por longos anos, podendo ser vista como uma imagem quase oficial do memorável evento.

A ênfase da composição, no entanto, não está na ação heróica de d. Pedro. Tanto o príncipe, quanto diversas figuras que o acompanham, dirigem seus olhares para o céu, de onde desce um raio de luz que ilumina a cena. Nesta representação, não está em jogo a habilidade política de d. Pedro, tampouco seu caráter ou capacidade de liderança. A imagem vincula o evento à providência divina, diminuindo com isso o tom heróico e voluntarioso da figura do príncipe e reafirmando a legitimidade dos herdeiros da casa de Bragança ao trono do futuro império tropical. Neste aspecto, a obra tem mais em comum com as imagens da Aclamação e da Coroação de Debret, do que com Independência ou Morte! de Pedro Américo. Para que a ação de d. Pedro se tornasse o tema central da obra de Pedro Américo foram necessárias mais de quatro décadas de transformações políticas e culturais.
FONTE: historia viva

Paris é uma festa







Em 7 de abril de 1831, o imperador Pedro 1º. abdicou da Coroa brasileira em favor de seu filho Pedro e zarpou para Paris. Após seis meses de badalações e tertúlias, viu nascer a filha Maria Amélia e moveu ofensiva militar contra o irmão, d. Miguel, rei de Portugal, a quem derrotou, deixando o trono livre para d. Maria 2ª.

No dia 7, fez 180 anos que o imperador d. Pedro 1º pisou pela última vez em terras brasileiras. A data, hoje esquecida, já teve tanta importância que chegou a ser cogitada como feriado da nossa independência. Era um dia tão significativo que Bernardo Pereira de Vasconcelos, grande personalidade da Regência, daria o nome de "7 de Abril" ao seu polêmico jornal. Talvez o baixo nível de muito do que publicou ali tenha contribuído para o rápido desprestígio da data.

Depois de um processo de desgaste que tivera entre suas razões o profundo envolvimento de d. Pedro com a sucessão da monarquia portuguesa, ele fora levado a abdicar da Coroa brasileira em nome de seu filho de cinco anos, que assim se tornava, automaticamente, o imperador d. Pedro 2º. 


Não zarpou logo o ex-imperador.

Seu navio ficou no porto ainda por uma semana, durante a qual ele aproveitou para negociar todos os seus bens, até os mais modestos. A bordo, seus maus modos --especialmente no trato com d. Amélia-- e sua azáfama de dono de armazém cioso da contabilidade de seu comércio causaram espécie na tripulação inglesa do Warspite.

TIRANO 

Deixava para trás o Brasil, onde, ao longo de um reinado de dez anos, passara de herói da Independência, príncipe liberal indispensável à conservação da unidade do nosso território, a tirano que não respeitava as decisões da Assembleia e que estaria mais ocupado com os problemas do país do qual nos libertáramos do que com os nossos. Poucos dias depois da abdicação, um dos jornais que mais o combateram, o "Tribuno do Povo", do agitador republicano Francisco das Chagas de Oliveira França, publicaria a acusação, até então apenas murmurada, de que a imperatriz Leopoldina, pouco antes de morrer, teria recebido um literal pontapé do marido.

A imagem do imperador do Brasil também não parecia ser muito boa no exterior. O casamento com a segunda imperatriz, d. Amélia, aliás, só foi celebrado depois que 16 princesas europeias recusaram a mão ao pretendente, aterrorizadas com seus modos brutais. Sabia-se também na Europa que ele ostentava uma amante poderosa, a plebeia Domitila de Castro, elevada pelo imperador a marquesa de Santos.

A revolta dos batalhões estrangeiros que ensanguentou o Rio durante três dias, em 1828, traumatizara a cidade. Quando o mesmo cenário se repetiu, em março de 1831, na sequência dos combates entre portugueses e brasileiros que passou à história como a Noite das Garrafadas, o desapreço dos brasileiros por d. Pedro já era total.

DESEMBARQUE 

No entanto, ao desembarcar na Normandia, em junho de 1831, o agora duque de Bragança foi recebido com salvas de 21 tiros de canhão, batalhões em formação, banquetes e todas as honras devidas ao chefe de Estado que já não era. Cherbourg e o resto da França festejavam d. Pedro como o príncipe que implantara um regime constitucional em um novo país da América.

As notícias sobre a revolução ocorrida em Paris em julho de 1830, que derrubara Carlos 10º, e, com ele, a última encarnação do regime absolutista na França, serviram de estímulo aos que, no Brasil, combatiam d. Pedro, impulsionando o movimento que o levou a abdicar. Na França, no entanto, o imperador tropical representava justamente os ideais modernos do constitucionalismo e do liberalismo.

Ao contrário do irmão, d. Miguel, que promovia um reinado de terror em Portugal, d. Pedro era visto como um monarca à frente de seu tempo, pois dera uma constituição tanto aos "selvagens" do Brasil como ao obscuro Portugal, mergulhado no atraso e na superstição. Impulsionada pelas ações e pela boa imagem do ex-imperador, a causa de d. Maria 2ª, cuja coroa fora usurpada pelo tio, ia ganhando admiradores por toda a Europa e empolgava a imprensa liberal francesa.

REVOLUÇÃO 

Em Paris, no aniversário de um ano da revolução de julho de 1830, o rei Luis Felipe fez questão de comparecer a todos os festejos na companhia do ex-imperador. D. Pedro causou a melhor das impressões. Elegante, simpático e bom cavaleiro, por onde passava era saudado pela multidão. Se no Rio desconcertava os diplomatas europeus com seu estilo informal --sem atentar para as sutilezas do "vous" (pronome de tratamento formal) e do "tu" (informal)--, só fazia agradar numa França com sede renovada de democracia.

Lafayette, por exemplo, que andava meio em baixa, até gostou quando, ao ser apresentado a ele, d. Pedro não escondeu que era tiete do herói francês. A amizade que firmaram faria com que o próprio Lafayette mais tarde escrevesse a d. Pedro encaminhando-lhe o neto como voluntário para lutar na reconquista do trono de Portugal.

Dali em diante, d. Pedro seria constantemente mencionado nos jornais. Até o nascimento de sua filha, em dezembro de 1831, mereceria longa matéria na primeira página do "Le Moniteur Universel". Ali se descrevia em detalhes a reunião em torno do leito da duquesa de Bragança. Entre os convivas, estava o embaixador do Brasil, pois d. Pedro queria garantir para a filha caçula o direito de sucessão ao trono brasileiro.

Diz o jornal que, depois do nascimento da princesa Maria Amélia, foram todos comemorar num restaurante. Devem ter reproduzido ali, no frio do inverno parisiense, mais uma das memoráveis pândegas lideradas pelo maior dos pândegos que sempre foi o imperador. Do grupo, no qual não faltaram o Chalaça e o futuro marquês de Resende, Antonio Telles, é possível que também participassem o pintor Jean-Baptiste Debret e seu pupilo, Araújo Porto-Alegre, então recém-chegados à Europa.

MUNDANISMO 

Se, do ponto de vista da vida pública, o "séjour" parisiense de nosso primeiro imperador foi um sucesso, do ponto de vista mundano não foi diferente. Ele era visto em toda parte, na ópera, nas corridas, frequentando os melhores cabeleireiros, os melhores alfaiates, fazendo-se retratar pelo melhor gravador e, só para não perder o costume, conquistando corações.

Mas não seria o nosso d. Pedro 1º se tudo o que fizesse agradasse aos esnobes franceses. A condessa de Abrantes, que o vira menino em Lisboa, classificou seus modos como equivalentes aos de um "criado de quarto de uma casa sem muita classe".

Suas composições musicais, apresentadas no Teatro dos Italianos pela orquestra do grande Rossini (diante do qual d. Pedro quedara-se embasbacado), foram bombardeadas pelo jornal "La Mode". Disse o jornal conservador que "o imperador do Brasil faria melhor indo expulsar seu sanguinário irmão do trono de Portugal do que expulsando com sua música os pacatos frequentadores da ópera".

CAMPANHA MILITAR 

D. Pedro não demoraria a de fato partir para Portugal. Enquanto jogava bilhar com o rei dos franceses ou festejava com os brasileiros e portugueses radicados em Paris, captava os recursos para aquela campanha militar que então todos consideravam de sucesso improvável. A simpatia pela causa de d. Maria no resto da Europa e o apoio da imprensa e dos liberais não eram garantia de ajuda para a expedição. Inglaterra e França preferiam, mesmo que apenas oficialmente, manter-se neutras diante da situa­ção portuguesa.

D. Miguel contava com um Exército de 80 mil homens e com o apoio da população. D. Pedro era um completo estranho, que nunca mais voltara a Portugal e que, ainda por cima, tinha arruinado o país patrocinando a independência do Brasil. Quando deixou a França com destino a Portugal, em janeiro de 1832, mal conseguira juntar 7.000 homens e algumas poucas embarcações, muito mal equipadas. Faltavam a d. Pedro navios, armas e homens. Suas tropas contavam, no entanto, com um bom elenco de poetas e idealistas, entre os quais Almeida Garrett e Alexandre Herculano, além da garra do notável líder militar que o ex-imperador do Brasil haveria de se revelar.

Foi uma campanha heroica e, pela bravura que demonstrou nos campos de batalha, pelo comando firme que impôs aos seus Exércitos, d. Pedro alcançou a vitória em 1834, quando, afinal, pôde coroar rainha sua filha amada, Maria da Glória. Estava fechado o ciclo desse contraditório herói romântico moderno que morreria logo depois, em setembro de 1834, aos 36 anos, deixando fixada na história de Portugal uma imagem bem diversa da que deixou no Brasil quando abdicou, em 7 de abril de 1831

FONTE:FOLHA.COM / ISABEL LUSTOSA

O tártaro nos dentes dos neandertais










Meu filho, assim como os extintos homens de Neanderthal, não gosta de escovar os dentes. Enquanto nos desesperamos com o acúmulo de tártaro (cálculo dental) nos dentes do menino, cientistas se deliciam com a falta de higiene bucal dos neandertais. Analisando os depósitos de tártaro nos dentes fossilizados, eles descartaram uma das possíveis razões para sua extinção.

O homem de Neanderthal (Homo neanderthalensis) foi um parente distante do Homo sapiens que surgiu na Europa e na Ásia aproximadamente 500 mil anos atrás. Eles habitavam esses continentes até 30 mil anos atrás.

Sua extinção coincidiu com a expansão de nossa espécie, que, vindo da África, se espalhou pela Europa e Ásia. As razões da extinção ainda não estão claras. Muitos acreditam que foram mortos por nossos ancestrais. Hoje sabemos que sua relação com nossos ancestrais foi íntima. Os 2% de genes de origem neandertal que sobrevivem em nosso genoma demonstram que, além de brigas, houve sexo entre as espécies.

Uma das teorias para a extinção dos neandertais é de que eles somente se alimentavam da carne de grandes animais e tiveram dificuldade de competir com o Homo sapiens, que, mesmo antes de desenvolver a agricultura, já incluía vegetais na sua dieta. Restos de vegetais foram encontrados juntos aos ossos de neandertais, mas como saber se eles faziam parte da dieta? Foi aí que três pesquisadoras tiveram a ideia de examinar o tártaro acumulado nos dentes. É bem conhecido que o tártaro, que se forma pelo acúmulo de sais de cálcio na superfície dos dentes, pode conter restos de comida preservados no seu interior.

Foram analisados sete dentes, três deles coletados na caverna de Shanidar, nas montanhas Zagros, no atual Iraque, e quatro coletados na caverna de Spy, em Jemeppe-sur-Sambre, na atual Bélgica. A caverna no Iraque foi escavada entre 1952 e 1957 e os dentes são de aproximadamente 50 mil anos atrás. Na Bélgica, os esqueletos de neandertais foram descobertos em 1885 e os dentes datam de aproximadamente 34 mil anos atrás. O tártaro foi removido com uma cureta, semelhante à que os dentistas limpam nossos dentes, e o pó resultante, examinado em um microscópio. Entre os cristais inorgânicos foi possível encontrar grãos de amido fossilizados.

Esses grãos são arredondados e sua forma e tamanho, típicos de cada planta. Da mesma maneira que podemos separar grãos de milho, arroz, soja e centeio, é possível identificar a origem das pequenas partículas de amido no microscópio. Essas partículas, que medem por volta de 10 micrômetros, foram separadas por tipo e classificadas, comparando sua forma com grãos de amido coletados de plantas que existem hoje.

No total, foram isoladas 93 partículas de amido do tártaro dos dentes coletados no Iraque e 136 partículas dos dentes belgas. Foram identificados grãos de amido provenientes de coquinhos de palmeiras, de diversos legumes e de gramíneas, indicando que em ambas as regiões os neandertais se alimentavam de diversos vegetais. Mas o mais interessante é que muitos desses grãos de amido apresentavam uma forma típica dos grãos de amido quando eles são cozidos, o que sugere que parte desses vegetais era consumida após ser cozida.

Tudo isso sugere que os neandertais já se alimentavam de vegetais, possuíam uma dieta variada e haviam desenvolvido os rudimentos da culinária. Essa descoberta vai contra a teoria de que eles somente se alimentavam de grandes animais e a diminuição do número desses animais talvez estivesse relacionada à sua extinção.

Estou pensando em pedir à dentista do meu filho que mostre a ele a quantidade de restos de comida acumulados nos seus dentinhos de leite, talvez ele se convença de escovar os dentes. Mas o tiro pode sair pela culatra: ele pode deixar de vez de escovar os dentes e decidir enterrar seus dentes de leite, com tártaro e tudo, como evidência para gerações futuras da dieta dos Homo sapiens por volta do início do século XXI.

FONTE: O Estado de S.Paulo / Fernando Reinach - BIOLOGO