Ação,
coordenada em diversas cidades do país, foi organizada por associações de
estudantes.
Na
noite de 10 de maio de 1933, em Berlim, estudantes nazistas acompanharam,
brandindo archotes, dois caminhões repletos de livros da Porta de Brandemburgo
até a Praça da Ópera.
Ali, a
despeito do aguaceiro que caía, descarregam o conteúdo dos caminhões e
organizam um “auto-de-fé ritual de textos judeus nefastos”. Vinte mil livros
são queimados. Entre os autores de livros atirados à fogueira figuravam
Heinrich Heine, Karl Marx, Sigmund Freud, Albert Einstein, Franz Kafka, Stefan
Zweig e uma biografia do compositor Felix Mendelssohn-Bartholdy.
Presente
na manif1estação, Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do III Reich,
denuncia num discurso radiodifundido o “mau espírito do passado” e conclama os
estudantes a lutarem para que “o espírito alemão triunfe definitivamente numa
Alemanha despertada como nunca”.
Manifestações
similares, cuidadosamente planificadas, tiveram lugar no mesmo momento em
outras cidades alemãs, com a presença de policiais e bombeiros. Era a
culminação de uma campanha de depuração desencadeada nas semanas precedentes
nas universidades, contra os professores judeus ou aqueles simplesmeste hostis
ao regime nazista. As obras de artistas “degenerados” como Van Gogh, Picasso,
Matisse, Cézanne e Chagall, são, de resto, banidas dos museus.
Bücherverbrennung
significa em alemão queima de livros. É um termo muitas vezes associado à ação
propagandística dos nazistas organizada entre 10 de Maio e 21 de junho de 1933,
poucos meses depois da chegada ao poder de Adolf Hitler.
Tudo o
que fosse crítico ou desviasse dos padrões impostos pelo regime nazista foi
destruído. Centenas de milhares de livros foram queimados no auge de uma campanha
iniciada pelo diretório nacional de estudantes.
A
organização deste evento coube às associações de estudantes alemãs NSDStB e
Asta, que com grande zelo competiram entre si tentando cada uma provar quem era
melhor que a outra. Foram queimados cerca de 20.000 livros, a maioria dos quais
pertencentes às bibliotecas públicas, de autores oficialmente tidos como
"pouco alemães" (undeutsch).
O poeta
nazista Hans Johst foi um dos que justificou a queima, com a "necessidade
de purificação radical da literatura alemã de elementos estranhos que possam
alienar a cultura alemã".
Oskar
Maria Graf não foi incluído na lista de autores com obras queimadas. Para seu
espanto, seus livros não foram banidos e até foram recomendados pelos nazistas.
Em resposta, publicou um artigo intitulado "Verbrennt mich! (queimem-me)
no jornal de Viena Arbeiter-Zeitung.
Em 1934, o seu desejo foi tornado realidade e os seus livros foram também
banidos.
A
opinião pública e a intelectualidade alemã ofereceram pouca resistência à
queima. Editoras e distribuidoras reagiram com oportunismo, enquanto a
burguesia tomou distância, passando a responsabilidade aos universitários.
Também os outros países acompanharam a destruição de forma distanciada,
chegando a minimizar a queima como resultado do "fanatismo
estudantil".
Entre
os poucos escritores que reconheceram o perigo e tomaram posição estava Thomas
Mann, que havia recebido o Nobel de Literatura em 1929. Em 1933, ele emigrou
para a Suíça e, em 1939, para os Estados Unidos. Quando a Faculdade de Filosofia
da Universidade de Bonn lhe cassou o título de doutor honoris causa, escreveu
ao reitor: "Nestes quatro anos de exílio involuntário, nunca parei de
meditar sobre minha situação. Se tivesse ficado ou retornado à Alemanha, talvez
já estivesse morto. Jamais sonhei que no fim de minha vida seria um emigrante,
despojado da nacionalidade, vivendo desta maneira!"
Também
Ricarda Huch retirou-se da Academia Prussiana de Artes. Na carta ao presidente,
em 9 de abril de 1933, a escritora criticou os ditames culturais do regime
nazista. "A centralização, a opressão, os métodos brutais, a difamação dos
que pensam diferente, os autoelogios, tudo isso não combina com meu modo de
pensar", justificou. Em 1934, a "lista negra" incluía mais de
três mil obras proibidas pelos nazistas.
FONTE: ÓPERA MUNDI
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