Documentário discute história da capoeira no Brasil. O filme, que estreia nesta quarta, no Arquivo Nacional, aborda desde o passado africano à institucionalização do movimento cultural no país
De Belo Horizonte para todo o Brasil, o filme “Paz no mundo Camará: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá”, de Carem Abreu, resgata a história de uma das mais tradicionais manifestações da cultura popular afro-brasileira. A obra, que percorrerá mostras Brasil adentro, é lançada nesta quarta-feira (8), na sede do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.
Com mais de 400 anos de legado, a Capoeira Angola passou três quartos de sua existência sendo discriminada e percebida socialmente como uma prática de malandragem. Para o Estado, chegou a ser contravenção e, em 1890, foi associada, por decreto, ao primeiro crime do Código Penal Brasileiro. Hoje, é sinônimo de harmonia, pregando valores fundamentais de solidariedade, igualdade e respeito.
Essa profunda transformação, como é de se esperar, não aconteceu do nada. Para a diretora de "Paz no mundo Camará", ela se deve a políticas públicas e pressões sociais. “Com a Semana de Arte Moderna, em 1922, o governo brasileiro assumiu a posição de criar uma identidade nacional. Então alguns folcloristas, como Câmara Cascudo, começaram a buscar o reconhecimento e a institucionalização da capoeira no país”, explica Abreu, que frisa ainda o importante papel do ex-presidente Getúlio Vargas neste processo. Para ela, seu apoio à descriminalização da atividade foi fundamental.
Movimento cultural
Entendida como a “capoeira de raiz”, a Capeira Angola recebeu esse nome apenas por uma questão de diferenciação. “Ela foi batizada em 1938, para se distinguir daquela que tinha sido criada pelo Mestre Bimba, a luta regional baiana. O que existia antes era a capoeira tradicional, a de raiz, que apenas recebeu um sobrenome”, comenta Carem Abreu.
A diretora Carem Abreu destaca a participação dos mestres de capoeira Manoel, do Centro Esportivo Ypiranga de Pastinha, localizado no Complexo da Maré, no Rio, e João Angoleiro, da Associação Cultural Eu Sou Angoleiro, de Belo Horizonte, que além de ser fonte de pesquisa, coordenou todo o trabalho técnico do filme. A antropóloga Carolina Césari também foi peça crucial para a elaboração do projeto. “Essa é uma pesquisa inédita para contribuir com a memória e preservação da afro-cultura no país”, afirma Abreu. Representantes do Grupo Capoeira Angola-Pelourinho e da Roda Livre de Caxias também deixam suas marcas.O documentário é fruto de uma investigação histórica acerca desta mudança de status da capoeira no Brasil, de atividade de resistência a patrimônio cultural. Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, proporcionaram um rico material, com mais de 300 documentos iconográficos, além de 46 entrevistas, entre mestres de Capoeira Angola, pesquisadores e especialistas em cultura popular nacional.
Para a cineasta, o norte das investigações partiu de uma hipótese central: “Dividimos a capoeira em recortes temporais, pensando esta arte não só como um movimento corporal, mas cultural, histórico e social”. Os quatro momentos percorrem seis séculos, do XVI ao XXI e são nomeados, cronologicamente, como “Da Origem à Diáspora”, “Marginalização e Perseguição”, “Folclorização e Institucionalização” e “Globalização e Projetos Sociais”.
Após a exibição do filme, há um debate entre a diretora, os mestres capoeiristas e o público, que poderá, ainda, assistir a apresentação de uma roda ao vivo. A entrada é franca. O Arquivo Nacional fica na Praça da República, 173, Centro, Rio de Janeiro.
FONTE: REVISTA DE HISTÓRIA
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