1. INTRODUÇÃO
O Movimento Tenentista, ou simplesmente Tenentismo, foi um conjunto de
movimentos armados de inspiração política ocorridos no Brasil na década de
1920. Assim foi chamado porque gerado entre a jovem oficialidade do Exército
Brasileiro, ou seja, entre tenentes e capitães idealistas, que desejavam um
Brasil melhor.
O Movimento Tenentista, no fundo, lutou contra as velhas instituições políticas
representadas pela chamada República Velha, contaminada pelas oligarquias
agrárias, assentadas no poder dos “coronéis”, grande parte deles
latifundiários. Estes, controlavam o Congresso e a política, de uma maneira
geral. Em seus estados de origem, principalmente Minas Gerais e São Paulo, suas
famílias dominavam o processo político através do “voto de cabresto” e também
das fraudes eleitorais. Tudo era válido, desde que o poder fosse mantido.
Foi o Tenentismo contra o Coronelismo.
Na época, a fraude eleitoral chegou aos níveis mais elevados do poder nacional.
A chamada Comissão Verificadora de Poderes (CVP) tinha por missão verificar as
Atas Eleitorais, localizar fraudes, proclamar os deputados e diplomá-los. Ora,
a fraude eleitoral passou a ser feita pela própria Comissão.
Posteriormente, ocupou espaço na política nacional a denominada “Política do
Café-com-Leite”, polarizada pelos estados de São Paulo (o café) e Minas Gerais
(o leite).
Surgiu então o “Coronelismo”. Os “coronéis” eram antigos fazendeiros de grandes
propriedades rurais que, há tempos idos, tinham sido coronéis da Guarda
Nacional.
Este quadro de circunstâncias foi alterado a partir da Primeira Guerra Mundial.
O setor fabril experimentou um crescimento nunca visto, o que fortaleceu a
burguesia industrial, a classe média urbana e o proletariado. Estes setores
reclamavam a reforma eleitoral, a moralização das eleições e o voto secreto. Em
outras palavras, estas faixas da população queriam participar do poder e
estavam lutando por isso. O proletariado lutava, também, por melhores salários.
A este quadro de circunstâncias somou-se o Tenentismo, enquanto movimento
reivindicatório de reformas sociais e políticas, baseado no caráter idealista
de jovens oficiais do Exército, descontentes com a situação do país.
Conforme Fernando Henrique Cardoso, no texto das abas do livro de Edgard Carone
“O Tenentismo” (Difel, São Paulo, 1975) a reiteração da necessidade de educação
popular, o espírito antilivresco, a crítica à corrupção e o saque do patrimônio
popular sob a proteção do Estado, entre outras, foram as bandeiras levantadas
pelos “tenentes”.
O pensamento tenentista era o seguinte:
“Se as urnas mentem, que em seu lugar falem as armas”.
Em âmbito geral, o movimento pode ser visto como uma manifestação da
pequena burguesia, a qual experimentou uma ascensão após a 1ª Guerra Mundial,
dentro do contexto do crescimento urbano e da insatisfação do operariado.
Os militares seriam, assim, “segmentos dinâmicos do processo
reivindicatório da classe média”, conforme CARONE, Edgard, O Tenentismo, Difel,
São Paulo, 1975, pág. 19.
A fase revolucionária do Movimento Tenentista foi desencadeado na madrugada de
4 para 5 de julho de 1922 no Rio de Janeiro, em três focos: um na Vila Militar,
outro na Escola Militar do Realengo e o terceiro no Forte de Copacabana.
O objetivo deste trabalho é relatar os acontecimentos que mais projeção
tiveram: a Revolta dos 18 do Forte de Nossa Senhora de Copacabana.
2. DESENVOLVIMENTO
a.
A Revolta dos 18 do Forte de Nossa
Senhora de Copacabana
Na manhã do dia 05 de julho de 1922 os dois primeiros focos da revolta,
Vila Militar e Escola do Realengo, já tinham sido eliminados.
Restava o Forte de Copacabana. Neste, os preparativos tinham sido
tomados com bastante antecedência. Trincheiras, redes de arame farpado,
reabastecimento de alimentos para um mês, não liberação dos soldados,
eletrificação da rede, preparação de sacos de areia, etc.
O fator desencadeante da revolta dos tenentes do Forte de Copacabana foi
o protesto contra a prisão do General Hermes da Fonseca pelo Presidente
Epitácio Pessoa.
Em junho, o governo havia intervindo na sucessão estadual de Pernambuco
e foi duramente criticado pelo Marechal Hermes da Fonseca, Presidente do Clube
Militar. Em reação, Epitácio ordenou a prisão do marechal e o fechamento do
Clube Militar, no dia 2 de julho de 1922.
A revolta dos tenentes não era somente contra Epitácio, mas também
contra a posse de Artur Bernardes, presidente eleito.
O governo lançou sobre Copacabana batalhões do Exército e da Polícia
Militar, além de dois encouraçados e hidroaviões da Marinha que bombardearam
violentamente o Forte. O Capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do Marechal
Hermes, comandante em exercício do Forte, foi chamado ao Palácio do Governo
para parlamentar, mas foi preso, sendo então substituído por Siqueira Campos.
Os tenentes tomaram então uma decisão: lutar, de peito aberto, até o fim.
Decisão tomada, o tenente Antônio de Siqueira Campos reuniu os
companheiros. A Bandeira do Forte foi arriada, rasgada em 28 pedaços e
distribuída aos revoltosos. Saíram do quartel às 15:00 horas do dia 06 de
julho, rumo ao Leme, para enfrentar as forças legais e, se possível, chegar ao
Palácio do Catete, 28 militares: os tenentes Siqueira Campos, Eduardo Gomes,
Newton Prado, Mário Tamarindo Carpenter, o Cabo Reis e os soldados Hildebrando
Nunes, José Pinto de Oliveira, Manoel Antonio dos Reis, Pedro Ferreira de Melo
e mais outros desconhecidos da Primeira Bateria Isolada da Artilharia de Costa.
Octávio Correia, amigo civil de Siqueira Campos, uniu-se ao grupo à saída do
Forte. Logo no início, o grupo de 28 reduziu-se à 18 mas, mesmo assim,
dirigiu-se à Praça Serzedelo Corrêa, onde estavam postadas as forças
governistas. Haviam percorrido boa parte da Avenida Atlântica, quando as tropas
legais saíram da Praça para receberem a rendição dos revoltosos do Forte. Mas
veio a surpresa: os revoltosos se entrincheiraram e abriram fogo contra os
governistas, acontecendo então uma grande fuzilaria. O combate foi desigual. A
superioridade numérica e de armas das forças legalistas era flagrante. O
combate durou meia-hora. Os primeiros a tombar foram o soldado Pedro Ferreira
de Melo, o civil Otávio Correia e o tenente Mário Carpenter. Morreram 16
revoltosos, alguns no hospital, em conseqüência dos ferimentos. Permaneceram
vivos, embora muito feridos, os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
3. CONCLUSÕES
O tenentismo foi, sobretudo, um movimento do Exército. Na verdade, a
intervenção dos militares no processo político era comum aos países da América
Latina. O Tenentismo, contra o Coronelismo, foi um dos episódios da revolução
burguesa no Brasil. Antigamente, na pequena burguesia, conforme Nelson Werneck
Sodré (O Tenentismo, Mercado Aberto, 1985) transitavam: “duas instituições que teriam papel destacado em nossa formação
histórica, a Igreja e o Exército...Se, com o passar dos tempos, declina o papel
dos padres nas lutas políticas, o dos militares cresce”
Ao lado da profissionalização, mormente com a influência da Missão
Francesa de Instrução, os oficiais adquiriram uma concepção de sociedade e de
poder. Na ânsia de salvar as instituições republicanas, prejudicadas pelas
atitudes mal-sãs das oligarquias, os militares formaram grupos que pressionavam
o governo. Eram os “salvacionistas”. Os tenentes adquiriram também um certo
desprezo pela cúpula do Exército, criando um antagonismo dentro da Força
Armada.
Os objetivos do Tenentismo eram, em si, modestos. Pretendia purificar o
regime e “republicanizar” a República, conforme diziam os tenentes.
Mesmo identificados com as aspirações da classe média, os tenentes não
digeriam, inicialmente, a idéia de eleições diretas nem de sufrágio universal,
mas sim de uma solução “autoritária” (Bóris Fausto).
Entretanto, o Tenentismo ficou isolado dentro da Força Armada, ou seja, não
conseguiu mobilizar o Exército em favor de sua causa, essencialmente
conservadora. Mesmo assim, conseguiu atingir seus objetivos, a mudança,
representada pela ascensão ao poder de Getúlio Dornelles Vargas, em 1930.
A revolta dos 18 do Forte de Copacabana, início do movimento, teve a finalidade
de alertar as autoridades para o que viria a seguir: um movimento
reivindicatório maior, mais bem articulado, e de âmbito nacional, como foi a
Coluna Miguel Costa/Prestes.
Outras revoltas tenentistas, em vários lugares do país, ocorreram, por
exemplo:
- a Revolução de 1924 em São Paulo;
- a Revolução de julho de 1924 em Mato Grosso;
- a Revolução de julho/agosto de 1924 no Amazonas;
- a Conspiração do Engenho Novo, Rio de Janeiro, dezembro de 1924;
- a Revolta do 17º Batalhão de Caçadores, Corumbá, abril de 1925.
Diversos lugares de memória foram criados, com monumentos diversos, em
alguns lugares do país, para rememorar os fatos.
Bibliografia
1) CARONE, Edgard. O Tenentismo, Difel, Rio 1975.
2) SODRÉ, Nelson
Werneck, O Tenentismo, Mercado Aberto,
Porto Alegre, 1985.
3) Internet. Google,
Monumentos aos 18 do Forte, 2007.
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