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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Saint-Simon, Fourier e Owen. A falta de utopias no século XXI. Um debate com Aloísio Teixeira


Pensadores como os franceses Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837) e o inglês Robert Owen (1771-1858) são considerados homens com idéias avançadas para o seu tempo. Mais do que refletir, diz o Prof. Dr. Aloísio Teixeira, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “os três tinham uma visão critica e denunciavam de maneira rigorosa a sociedade”.
Ao contrário do que muitos imaginam, os pensadores utópicos, como são conhecidos, não se proclamavam socialistas e não queriam a igualdade. Encaravam a desigualdade como algo natural da vida humana. Além disso, desconfiavam dos políticos e dos militares, mas acreditavam na virtude das elites constituídas pelo saber. Descrente com a política, Saint-Simon escreveu, em A Parábola, que, caso a Família Real Francesa morresse, a humanidade não perderia nada. No entanto, se 3000 artistas, escritores, bancários, enfim, toda a classe trabalhadora morresse, seria uma desgraça para o país. O Prof. Dr. Aloísio Teixeira, explica que “a visão de Saint-Simon era que a sociedade devia ser conduzida por artistas, intelectuais, sábios”.
Fourier, na opinião do professor Aloísio Teixeira, foi o mais estranho e o mais instigante desses autores. E o julgamento não é à toa. Fourier, se não foi o primeiro, provavelmente foi um dos primeiros pensadores a questionar e estudar a atividade da mulher na sociedade. Em suas teorias, defendia a emancipação da mulher e até mesmo a traição feminina dentro do casamento, segundo ele, esse tipo de ação incentivava o homem a pensar na relação. Uma cena cômica para os dias de hoje? Talvez nem tanto. Ele conseguiu antecipar a situação feminina que só 100 anos depois se realiza com a liberdade do voto para as mulheres.
Owen marcou seus estudos pelas preocupações com o modo de vida da sociedade. Ele foi responsável pela melhoria das casas, pela criação de armazéns com preços moderados. Criou escolas ativas, reduziu a jornada de trabalho dos funcionários e pregou a formação de cidades-coorporativas ou autônomas de trabalhadores, como solução para a questão social. A repercussão de sua obra ultrapassou fronteiras. Dos três, foi sem dúvida o que mais chamou atenção pelas suas idéias, tornando-se um dos mais importantes pensadores utópicos.
No III Ciclo de Estudos Repensando os Clássicos da Economia, promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, o Prof. Dr. Aloísio Teixeira apresentou um painel dos socialistas anteriores a Karl Marx, no qual propôs uma reflexão sobre as principais idéias e pensamentos de Saint-SimonCharles Fourier e Robert Owen. Segundo o professor, esses autores se distinguem dos demais pela proposta de mudança que apresentam em suas obras. Eles acreditavam que a mudança da sociedade, e, principalmente, a transformação do homem, só seria possível através do conhecimento cientifico. “Eles reverenciavam o conhecimento cientifico e tinham uma fé inabalável por ele”. Mesmo apresentando propostas diferentes para a criação de uma sociedade ideal, o trio utópico concordava com a criação de uma reforma social, na qual o homem precisava ser reformado em primeiro lugar.
Embora a obra dos três autores já esteja um tanto quanto atrasada para os dias de hoje, o professor diz que a leitura dos textos ainda vale a pena. Ele destaca que esses livros podem ser utilizados como um instrumento de pesquisa, principalmente pelos jovens. E dispara: “pelo menos para saber onde essa história começou. Todos os autores do século XIX  até hoje se basearam nesses autores, por mais fantasiosos que eles foram”.
A exposição do Prof. Dr. Aloísio Teixeira durou aproximadamente 1h30min. Depois, iniciou-se o debate. Questionado sobre a existência de utopias no Brasil atual, ele afirmou que a ela sempre existiu, mas em seguida rebateu: “vivemos no Brasil hoje um momento de poucas utopias. Vivemos grandes utopias no fim da ditadura. Achávamos que íamos caminhar para um mundo melhor. Mas houve uma queda muito grande nas expectativas e as pessoas perderam um pouco a utopia”.  Em seguida concluiu: “vale a pena dedicar um pouco de tempo porque reconstruir a utopia é preciso no mundo em que vivemos”.
FONTE: .ihu unisinos

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