"Que país é este? - era a indagação que se fazia à
sociedade quando o Brasil se preparava para o reencontro com as liberdades
públicas.
O Estado concedia quotas de liberdades mas se prevalecia do
autoritarismo institucionalizado.
Levantou gradualmente a censura à imprensa, mas se reservava
o arbítrio até para impor sua vontade ao Congresso. Soube-se que país era
aquele.
Mas que país, afinal de contas é este? Uma democracia
certamente não é e nem será enquanto o Estado pretender que a vontade nacional
continue a ser ditada pelos instrumentos de coação da sociedade". Editorial
JB
Chegou ao plenário do Congresso, alavancada pela Campanha
das "Diretas Já" em incansável peregrinação pelo país, a Emenda
Constitucional Dante de Oliveira, proposta pelo deputado federal homônimo, com
objetivo de instaurar eleições diretas para a presidência da República.
A sessão era o triunfo do movimento civil reivindicatório de
eleições presidenciais diretas no Brasil, iniciado oficialmente durante um
discurso no interior pernambucano no ano anterior, e orquestrado com sucessivas
adesões de importantes lideranças da vida pública nacional. Por todo o país o
povo acompanhou a contagem de votos em painéis instalados em praças públicas.
No Rio, a concentração foi na Cinelândia. No ABC Paulista, houve manifestações
de trabalhadores em empresas metalúrgicas e, na Capital, o povo reuniu-se na
Praça da Sé. Em Brasília, universitários e secundaristas escreveram com seus
corpos a frase Diretas Já, nos gramados do Congresso. Algumas emissoras de
rádio e televisão sofreram censura e tiveram a transmissão suspensa durante
horas, voltando a funcionar somente à noite.
Adiado sonho de votar
para presidente
Com galerias tomadas, o plenário votou a emenda Dante de Oliveira sob tensão,
até as primeiras horas da madrugada do dia seguinte, numa das mais exaustivas
sessões da história do Congresso Nacional. Ao final de mais de 60 discursos,
era adiado mais uma vez o sonho nacional de escolher o presidente do país
através do voto direto. Com 298 votos favoráveis, 65 contrários, 3 abstenções e
a ausência de 113 deputados - estratégia adotada pelo Partido Democrático
Social (PDS), o Congresso rejeitou, por falta de quórum constitucional, a
emenda em questão, retardando o processo de redemocratização do País.
FONTE: JORNAL DO BRASIL
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