Ao mesmo tempo em que o aumento da influência brasileira está sendo vista com desconfiança pelos nossos vizinhos, o sucesso econômico do Brasil é um modelo a ser seguido.
Esse sentimento dúbio, crescente na região, pode ser confundido com neoimperialismo e gerar o surgimento do “antibrasileirismo”, caso o Brasil repita o comportamento das coloniais tradicionais, como os Estados Unidos e Espanha. Isso obriga o País a ser muito mais cuidadoso ao administrar as reações a sua expansão no continente. Existem formas para diminuir essa hostilidade como, por exemplo, fomentar a cooperação técnica e convencer de que todos têm a ganhar com essa integração, tão sonhada por Simon Bolivar.
Em 2008, durante o governo Lula, a expulsão da construtora brasileira Odebrecht do Equador foi um dos primeiros indícios dessa resistência. A empresa foi acusada pelo governo de cometer irregularidades na construção da usina hidrelétrica San Francisco, que teve de ser fechada depois de um ano de uso. A medida também cancelou a construção de quatro projetos que estavam sob responsabilidade da construtora.
O presidente Rafael Correa também ameaçou expulsar a Petrobras caso a empresa não aceitasse as novas regras determinadas pelo governo equatoriano para a exploração petrolífera. Na Bolívia, dois anos antes, o exército já havia ocupado todos os campos de petróleo e gás natural do país, principalmente os explorados pela estatal brasileira de petróleo, sob o argumento de que todos os contratos de exploração deveriam ser revistos.
Recentemente, o governo da província de Mendoza, na Argentina, suspendeu a exploração de potássio feito pela Vale, com investimento de US$ 8 bilhões. O governo acusa a mineradora de não cumprir acordo para a utilização de fornecedores e mão de obra local.
No Peru, a licença para a construção da hidroelétrica de Inambari, a ser tocada pela OAS, Furnas e Eletrobras, foi cancelada. Comunidades locais protestavam contra prováveis danos ambientais e acusavam o projeto de beneficiar somente o Brasil.
Nossos vizinhos desejam receber investimentos brasileiros e enxergam o Consenso de Brasília como modelo para o crescimento da região, mas querem evitar possíveis abusos. Da mesma forma que o Itamaraty defende um crescimento regional sustentável e igualitário, orquestrado nos moldes da União Européia, um colonialismo no novo milênio, puxado pelos gigantes emergentes não trarão igualdade de condições para aqueles que não aguentam mais ser quintal dos outros.
Isto está bem claro quando o presidente-eleito do Peru, Ollanta Humala, disse: “não queremos repetir com o Brasil o ditado mexicano que diz que a desgraça do México é estar tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.
FONTE:Carta Capital / Leonardo Calvano
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