Alunos tinham que discutir os limites entre o público e o privado; tema era uma das apostas de professores
Os candidatos do Enem tiveram que escrever neste domingo uma redação sobre "Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado". Eles deveriam usar dois textos de referência. O primeiro abordava a relação entre a internet e a reputação das pessoas, afirmando que a web pode ser usada tanto para o bem como para o mal. O segundo texto mostrava como a internet afeta a vida de indivíduos e empresas e lembrava que a ONU declarou o acesso à rede direito básico do ser humano.
Uma charge do cartunista André Dahmer também serviu de apoio para a redação. Na tirinha, um homem que sabia que estava sendo vigiado falava para uma câmera.Um policial assistia a este mesmo homem falando. Ele dizia que não gosta de ser filmado e que, se o policial concordasse, os dois poderiam se juntar para acabar com a vigilância. Redes sociais também caíram na prova objetiva de Linguagens e Códigos em duas perguntas: uma sobre o Facebook e outra sobre o Twitter.
'Todo mundo sabe falar'
O uso das redes sociais como tema da redação já era esperado por professores e estudantes. Em Salvador, por exemplo, liderou a bolsa de apostas de candidatos que aguardavam a abertura dos portões do Centro Universitário Estácio da Bahia, no bairro do Stiep, para fazer a prova. "Até ontem, eu tinha certeza que seria sobre meio ambiente, talvez falando de Belo Monte", comentou Juliana Reis, de 17 anos. "Mas a prova de ontem teve tanto meio ambiente que agora acho que vai ser uma coisa completamente diferente, tipo internet ou Copa do Mundo."
O tema também foi elogiado em São Paulo, no câmpus da Unip na Rua Vergueiro, zona sul. Ingrid Pereira, de 18, aluna do 3.º ano do ensino médio, comemorou: "É algo que todo mundo sabe falar. Os jovens passam muito tempo na internet.” A estudante tem contas no MSN, no Orkut, no Facebook e no Twitter e vai tentar uma bolsa do Prouni para os cursos de Administração, Contabilidade ou Recursos Humanos.
Kaite Vargas, de 19, também no último ano do ensino médio, achou o tema fácil. “Falei sobre o Facebook e os avanços da tecnologia. Hoje a internet permite que a gente conheça pessoas novas e reencontre quem a gente não vê há muito tempo.”
'Demorei para entender o tema'
Apesar de ter não ter surpreendido candidatos, o tema foi criticado por Carolina da Costa Simões, de 21, que prestou o exame no câmpus da Uerj no Maracanã, zona norte do Rio. “Achei que o tema não tinha nada a ver”, disse Carolina, que pretende cursar Enfermagem. “Tinha outros assuntos muito mais interessantes que podiam ter caído.”
Conseguir desenvolver o tema da redação foi a principal dificuldade alegada pelos candidatos que participaram do Enem em Belo Horizonte. Mesmo assim, vários estudantes deixaram os locais de prova assim que a saída foi autorizada, pouco após as 15h30. “A redação apertou um pouco porque eu demorei para entender o tema. Depois que entendi, foi fácil”, afirmou Henrique Nepomuceno, de 17, que fez as provas no câmpus da UFMG na Pampulha.
'Relativamente tranquilo'
Para a professora do Cursinho da Poli Eclícia Pereira, o tema da prova foi "relativamente tranquilo", pois remetia ao cotidiano dos candidatos. Segundo ela,o ideal seria o estudante refletir sobre como a superexposição provocada pelas redes sociais influi na vida de cada um.
A professora, que participou da correção das redações do Enem entre 2001 e 2006, lembra que muitas pessoas não têm noção de como são mapeadas e do controle que os outros exercem sobre suas vidas a partir das redes sociais. Por isso, diz Eclícia, a redação também poderia discutir as proporções dessa vida cada vez mais pública na geração atual.
Segundo a assessoria do Inep, órgão responsável pelo Enem, a publicação do tema da redação no site do jornal O Globo antes do horário permitido para a saída dos candidatos não configura quebra de sigilo da prova, porque todos os alunos já tinham acesso ao tema 1 hora após o início do exame.
FONTE: estadao.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário