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1 – Você
faz parte disso
Certa
vez uma pessoa me disse que os debates sobre racismo são
exagerados, pois ela não via razões para discriminar alguém por sua cor de
pele. É um raciocínio romântico achar que, por não fazermos parte do grupo que
discrimina, basta jogar o assunto para debaixo do tapete. Tendo o preconceito
ao nosso redor diariamente, ainda que de forma involuntária, somos parte disso.
Por exemplo, quando minimizamos a gravidade de um ato discriminatório ou quando
presenciamos uma cena e não fazemos nada a respeito. Também fazemos parte
quando não questionamos o modelo de sociedade que estamos vivendo. A não ser
que você viva em uma realidade paralela, onde todos são iguais de fato, você
faz parte disso.
2 – Violência gera violência
O racismo é uma forma de violência e, como tal, age em ciclos. Os
contínuos esforços em manter a população pobre na periferia afastam seus
moradores de condições decentes de educação, saúde e trabalho, corroborando
para a manutenção da situação degradante dos moradores de áreas afastadas. A
maioria da população moradora de favelas é negra, segundo estudo
do Ipea. O IBGE aponta que 1% dos moradores possui
ensino superior.
Esta população está sensivelmente próxima da violência, fato comprovado pela
pesquisa que mostrou que a violência urbana está diretamente ligada
à discriminação racial e social.
Este assunto é frequentemente apontado quando a criminalidade é discutida. Há
quem não tolere a defesa de um criminoso, sob a alegação de que, como seres
humanos cientes de seus atos, eles precisam apenas ser punidos e afastados –
ainda mais – do convívio social. Como nosso sistema de reabilitação é bastante
deficiente, o mais natural, embora trabalhoso para alguns, seria propor-se a
estudar o cerne do problema, não apenas sua consequência. A população negra
está marginalizada, pessoas marginalizadas não têm expectativa de vida e são
mais facilmente coagidas a integrar grupos criminosos, não por escolha, mas
porque todo o resto lhe virou as costas. O debate sobre a questão criminal no
Brasil precisa se afastar de percepções emocionais e se aproximar da Ciência, e
isto não é assunto exclusivo para sociólogos e juízes, é problema de todos os
habitantes das cidades.
3 – Você sabe que é errado
Quando uma pessoa acredita que seu ponto de vista é minimamente
razoável, ela o expõe com os argumentos que tem a seu alcance. Quando ela sabe
que está errada, sai pela tangente, se esconde, faz piada, tenta justificar com
sentenças sem pé nem cabeça. Racismo é
crime, e é tão grave que as pessoas que o praticam sabem disso, e não raro se
escondem sob o anonimato quando querem externar o que pensam de forma clara.
4 – As crianças não têm culpa
Além da densa discussão proposta no item 2, uma outra
consequência grave da discriminação racial são os efeitos psicológicos em quem
sofre e quem vê. É na primeira infância que o ser humano aprende valores que
pautarão seu comportamento para o resto da vida. A criação de estereótipos
raciais firma nas crianças a ideia de separatismo. Atitudes pequenas como a
naturalização de apelidos ofensivos e negação de características físicas de
pessoas negras (lábios grossos, narizes grandes, cabelos crespos) tornam-se
verdades na cabeça das crianças. Além do aspecto cruel de tornar crianças
reféns de tal barbaridade, elas crescerão e se tornarão adultos que pautaram
sua vida em atitudes de discriminação, o que ajudará a agravar os supracitados
problemas com violência.
Lutar contra isso é apoiar uma sociedade mais justa, onde crianças estão livres
da violência física e psicológica causada pelo racismo, e poderão se tornar
adultos saudáveis e menos vulneráveis.
5 – Não faz sentido
No caso do Brasil, negros foram trazidos para cá num grande
esquema de tráfico humano para serem utilizados como escravos. Mulheres negras
foram objetificadas e reduzidas a objetos sexuais e amas de leite.
Como negros eram inferiorizados até praticamente não serem considerados
humanos, criou-se, entre outras teorias absurdas, a ideia de que eram
mentalmente inferiores do que brancos. Até hoje há quem defenda esta ideia
torpe, muito embora a ciência tenha precisado perder tempo para provar o óbvio:
não há superioridade mental branca.
6 – Não tem graça
Racismo não é humor, a não ser que o objetivo seja apenas reforçar os
estereótipos preconceituosos que já vivemos. Um dos principais argumentos de
defesa de quem é pego no flagra fazendo troça deste tipo é que era só uma
brincadeira. Primeiro devemos ter em mente ninguém é obrigado a aceitar a
brincadeira que for. Depois é preciso pensar o que você sentiria se fosse com
você. Vale também tentar saber o que sentem as pessoas que são alvo destas
brincadeiras.
Por último: simplesmente não tem graça. Há coisas engraçadas no mundo e o
racismo não é uma delas. Chamar de macaco, cabelo de Bombril, dizer que, apesar
de negra, a pessoa até que tem traços finos, chamar de cotista um negro no meio
de um grande grupo de pessoas brancas, nada disso tem justificativa senão
unicamente a ignorância.
Se alguém realmente acha que está certo por proferir piadas racistas e continua
justificando isso com argumentos cada vez mais violentos, ele está errado.
De tempos para cá, muita gente reclama do politicamente correto.
O politicamente correto nada mais é que ética e respeito, é saber que não, não
podemos tudo. E achar que pode usar alguém como alvo de piada preconceituosas e
não querer enfrentar o que vem depois disso, é infantilidade, coisa de gente
que não aprendeu desde cedo que não temos direitos sobre a vida do outro,
tampouco temos direito de humilhar alguém por sua cor da pele – olha os efeitos
do racismo na infância aí.
Aceitar com naturalidade o humor feito para humilhar o outro é gostar de viver
em uma sociedade desigual, ponto contra o qual precisamos ir.
7 – É uma luta cansativa, mas é um trabalho em grupo
Lutar contra o racismo é uma guerra constante e pesada. É estar
o tempo todo tendo que repetir as mesmas coisas para explicar ao racista por
que o comportamento dele não tem motivo de ser. Mas, adivinha só? Como todo
trabalho, este também traz mais resultados se feito em conjunto. É comum se
sentir irritado ou entristecido com manifestações racistas, mas a militância
diária dá resultado. Às vezes uma conversa basta. Às vezes é preciso ser mais
enfático. Tudo depende de quão enraizado está o preconceito na vida de quem o
pratica.
8 – Qualquer um pode fazer isso
Não é necessário participar de um grande grupo político para
lutar contra o racismo, atitudes cotidianas também devem se tornar ponto de
atenção. Questione-se porque há tão poucos estudantes negros nas universidades,
repare na cor da pele dos jovens mortos por arma de fogo, se pergunte porque há
empresas de empregados domésticos que tem a opção “cor” no formulário de
preenchimento de requisição de funcionário.
9 – Você se beneficia de uma sociedade igualitária
Ter mais negros em altos cargos de trabalho, ocupando cadeiras
universitárias e passeando pelas ruas sem estarem sob frequente estado de
alerta para não serem apontados como criminosos em potencial torna a vida mais
fácil a todos. Estar perto da população mais pobre também nos torna sensíveis
às questões sociais e nos permite entender nosso papel na comunidade, pois é um
erro crasso achar que pertencemos a algum grupo diferente. Nós apenas estamos
em condições diferentes. A luta contra o racismo precisa ser de todos porque
ela sedimenta as políticas que permitirão o desenvolvimento de todos os
cidadãos, diminuindo a desigualdade social e, consequentemente, construindo um
lugar melhor para todos.
FONTE: Revista Black Brasil